Lavagem Nasal - recomendações atuais da Sociedade Brasileira de Pediatria - Coluna Pediatria por Dra. Carolina Calafiori de Campos

A lavagem nasal tornou-se algo muito comum, e vários dispositivos vêm sendo utilizados, desde uma simples seringa até outros muito mais sofisticados.

A prática da lavagem nasal consiste em irrigar a cavidade nasal com uma solução de água com cloreto de sódio, na maioria das vezes de forma isotônica ou mesmo soro fisiológico a 0,9g/L.

O objetivo da lavagem nasal é limpar o excesso de muco e material particulado da cavidade nasal, assim como hidratá-la.

Entretanto, ainda não há um consenso sobre qual O MELHOR MÉTODO.

Atualmente muitos consensos nacionais e internacionais recomendam a lavagem nasal para o tratamento de várias doenças nasossinuais, promovendo a limpeza mecânica do muco, debris, crostas e ainda contaminantes do ar como alérgenos e material particulado do ar; promove, ainda um aumento do clearence mucociliar e reduz a contaminação por possíveis inalantes.

Hoje ( 30/11/23) o Departamento Científico De otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria , emitiu um Guia Prático de Atualização da Lavagem nasal .

Veja abaixo os principais tópicos abordados.

A irrigação nasal salina ou lavagem nasal não tem o seu mecanismo de ação completamente entendido, mas sabe-se que ela atua da seguinte forma:

1)contribuindo para uma melhor função do transporte mucociliar, atuando na fluidificação do muco, e tornando-o mais facilmente removível pela melhora no funcionamento do batimento ciliar.

2) removendo do nariz bactérias, alérgenos e mediadores inflamatórios, melhorando tanto a eficiência antimicrobiana como a resolução da inflamação.

A lavagem nasal parece diminuir os sinais e sintomas das afecções nasossinusais na criança, porém, apesar de sua prescrição rotineira na prática clínica, não existem estudos com alto nível de evidência sobre sua eficácia, assim como não existem evidências de que a lavagem nasal deva ser prescrita de forma ROTINEIRA como forma de prevenir doenças nasossinusais.

As principais indicações para lavagem nasal na infância são:

1)Rinite do lactente

2)Rinite alérgica

3)Infecções nasossinusais virais e bacterianas agudas

4)Rinossinusite crônica

5)Infecções nasais perinatais (sífilis, gonorreia)

6)Crianças em uso de dispositivos de ventilação não-invasiva ou cateter de oxigênio

7)Epistaxes (sangramento nasal)

8)Pós-operatório de cirurgias nasossinusais

Em relação as contraindicações da lavagem nasal na criança, elas são relativas e devem ser avaliadas pelo médico. Considera-se contraindicações da lavagem nasal os casos de suspeita de corpos estranhos nasais, pacientes com disfagia e risco de aspiração, pacientes com fissura palatina, crianças com defeitos da base do crânio e em casos de fraturas da face.

Em alguns desses casos, recomenda-se o exame do nariz com nasofibroscópio para diagnóstico antes da indicação da higiene nasal.

Em relação aos dispositivos utilizados para lavagem nasal e cuidados com o nariz, os principais são:

-Conta-gotas

-Seringas

-Flaconetes: o mais utilizada em recém-nascidos e crianças internadas em UTI neonatal e UTI pediátrica ou até mesmo em outros regimes de internação

-Peras de aspiração, aspiradores nasais, aspiradores elétricos

-Chaleirinha

-Garrafas compressíveis Spray

-Spray em jato contínuo

Em relação as diferentes concentrações das salinas nasais, temos soluções indicadas segundo a concentração ou Osmolaridade, que são:

1)Isotônica 0,9% - mais aceita para uso em crianças.

2)Hipertônica 2% e 3% - podem causar ardor e irritação da mucosa.

3)Ringer lactato: 100 ml de soluto de Ringer contém 600 mg de cloreto de sódio, 20 mg de cloreto de cálcio, 30 mg de cloreto de potássio e 310 mg de lactato de sódio (isotônica)

4)Solução salina caseira que pode ser preparada com 9 g de cloreto de sódio (NaCl) em um litro de água filtrada e fervida (Solução salina 0,9%).

A lavagem nasal pode ser realizada de diferentes formas. Atualmente, estão disponíveis nas farmácias soluções de soro fisiológico nas apresentações de conta gotas, sprays, jato contínuo e garrafas de alto volume.

Veja na figura abaixo as apresentações de soluções para lavagem nasal: Da esquerda para direita, conta-gotas, spray, jato contínuo, seringa, dispositivo de alto volume pediátrico e adulto.

Em bebês menores de 6 meses, o uso dos sprays e conta gotas é o mais indicado para umidificar a mucosa e familiarizar com o uso da lavagem nasal. Já em crianças maiores a limpeza é melhor realizada através da seringa e do frasco de alto volume.

A maioria dos estudos publicados sobre lavagem nasal são em população adulta, por isso não há definição de qual seja o melhor dispositivo para realizar lavagem nasal em criança, particularmente em recém-nascidos, lactentes e crianças pequenas.

Independentemente da idade e tipo de dispositivo a vir a ser utilizado, algumas recomendações são básicas e devem ser obedecidas para que se obtenha uma lavagem correta:

a) sempre direcionar o dispositivo no sentido lateral da narina, evitando o trauma no septo nasal;

b) nunca aplicar com força, sempre manter uma pressão suave e contínua;

c) estabelecer um bom vedamento da conexão de saída do dispositivo com a narina;

d) direcionar o jato em ângulo de 45 graus para cima em relação ao plano do palato

Efeitos adversos da Lavagem Nasal:

Há evidências atuais que a irrigação nasal com soluções salinas raramente provoca efeitos adversos, sendo o desconforto local (ardência, prurido, queimação), lacrimejamento, epistaxe, otalgia e cefaleia os mais apontados.

A maior frequência de eventos adversos tem sido associada à utilização de soluções hipertônicas em comparação às isotônicas, sendo queimação e prurido os mais relacionados.

Dados: Guia Prático de Atualização Lavagem Nasal (Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria) 30/11/2023

Dra. Carolina Calafiori de Campos

Coluna Pediatria

Dra Carolina Calafiori de Campos - CRM 146.649 RQE nº 73944 

Médica Formada pela Faculdade de Medicina de Taubaté, Especialização em Pediatria pelo Hospital da Puc Campinas, Especialização em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital da Puc Campinas, Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria - Contato: carolinacalafiori@hotmail.com